1 Pedro 3 - Jesus Pregou aos Espíritos em Prisão? Quem eram e Quando isso Ocorreu?

 1 Pedro 3:18-20 - "Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água"


O apóstolo Pedro explica que Cristo, sendo justo, morreu em lugar dos injustos, para nos levar a Deus. Ele foi morto na carne, mas vivificado pelo Espírito. Além disso, o texto continua dizendo que Cristo foi e "pregou aos espíritos em prisão", e que tais "espíritos" foram "rebeldes ... nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca". Quem são estes "espíritos em prisão" que Cristo foi e pregou a eles? Quando isso aconteceu?

Com base na passagem acima, existem 3 grupos de pessoas que procuram justificar suas doutrinas. São eles:

  1. Grupo espírita: Justificam a doutrina da existência de espíritos desencarnados, a encarnação, etc.
  2. A maioria dos evangélicos: Justificam a imortalidade da alma.
  3. Os católicos: Justificam a existência de um purgatório.

Todos esses 3 grupos entendem que tal passagem se aplica ao período de tempo ocorrido entre a crucifixão de Cristo e a sua ressurreição. A interpretação majoritária da Bíblia declara que Cristo morreu na sexta-feira e ressuscitou no domingo, tendo permanecido esse tempo da sua morte pregando à tais "espíritos em prisão" dos antediluvianos, ou seja, das pessoas que viveram na época de Noé, antes do dilúvio acontecer na terra (Gênesis 6). Tais pessoas teriam vivido aqui na terra, cerca de 2300 anos antes da morte de Jesus. Mas será de fato que tais interpretações estão corretas, e que isso mesmo aconteceu durante a "morte" de Jesus?

Primeiramente, o que podemos assumir à respeito dessas interpretações? Seguem algumas informações a serem consideradas:

  1. Existe vida após o momento da morte. O espírito é uma entidade viva da pessoa que já morreu.
  2. Ao morrer, o espírito de Jesus foi pregar para outros espíritos de pessoas que já estavam mortos.
  3. Os espíritos em prisão eram de pessoas injustas e foram rebeldes na época de Noé.
  4. Se Jesus foi pregar à tais espíritos de pessoas que já morreram, é porque elas estavam recebendo uma segunda chance para arrependimento.

Considerando essas informações, vamos compará-las com outras passagens bíblicas e verificarmos qual interpretação está mais adequada com a Bíblia. Comecemos com Hebreus 9:27:

Hebreus 9:27 - "E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo"

No texto acima, é explicado que os homens morrem uma vez só, e após isso está destinado ao juízo. Em outras palavras, tudo o que fizermos nessa vida decidirá o nosso futuro. Não há outra oportunidade de remissão. Não existe outra vida "disponível" para vivermos novamente. O juízo será feito com base nas ações e decisões que tomarmos enquanto estivermos vivos. Após isso, não haverá outra chance!

Com base nisso, conseguimos descartar a interpretação espírita, a qual ensina a doutrina da "reencarnação". O mesmo se dá com a interpretação católica que procura justificar a crença em um purgatório, local onde Jesus supostamente tivesse ido após a sua morte para dar uma segunda chance a esses "espíritos em prisão". Desta forma, nos resta a segunda interpretação da maioria dos evangélicos, as quais utilizam tal passagem para justificarem a crença na imortalidade da alma, ou seja, que existe vida logo após a morte.

Eclesiastes 9:10 - "Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma"

Salomão nos aconselha a fazermos tudo o que podemos enquanto temos força, pois "na sepultura" para onde vamos após a morte, "não há obra", "nem projeto", "nem conhecimento" e "nem sabedoria alguma"! O salmista, falando sobre o momento da morte, diz que "naquele mesmo dia perecem os seus pensamentos" (Salmos 146:4).

É evidente que o destino do homem no momento em que morre é a sepultura! É para esse lugar que vamos, conforme anunciou o sábio Salomão. Após a nossa morte, não há obra, projetos, conhecimento ou sabedoria. Tudo se acaba! Isso deixa bastante evidente que não existe a possibilidade do "espírito" do homem ser uma entidade viva, pois se assim fosse, essa entidade viva chamada de "espírito" seria desprovida de todos esses atributos (obras, projetos, conhecimento e sabedoria)! Como um "espírito desencarnado" ouviria pregações de Jesus se ele está desprovido de sabedoria e conhecimento? Como tomaria alguma decisão do que é certo ou errado em sua pregação se não possui mais conhecimento e os seus pensamentos pereceram no dia da sua morte aqui na terra?

Perceba que até mesmo a ideia dessas entidades receberem uma pregação de Cristo é contrária ao ensino de Hebreus 9:27, o qual lemos que após a morte de cada um está reservado o juízo. Os evangélicos rejeitam a doutrina católica do purgatório, mas aceitam a interpretação de que Cristo foi pregar aos mortos antediluvianos. A pregação só tem um propósito que é o arrependimento e conversão do pecador, mas se esse já está morto e reservado para o juízo, por qual motivo Cristo pregaria para eles se não existe mais chance de arrependimento?! Não seria essa a mesma doutrina do purgatório só que adaptada para o pensamento evangélico?! Certamente que sim! O profeta Isaías diz o seguinte:

Isaías 38:18,19 - "Porque não te louvará a sepultura, nem a morte te glorificará; nem esperarão em tua verdade os que descem à cova. O vivente, o vivente, esse te louvará, como eu hoje o faço; o pai aos filhos fará notória a tua verdade"

Perceba que o profeta Isaías disse que os que morrem não "esperarão em tua verdade", e que somente "o vivente, esse te louvará"! Os mortes santos não louvam ao Senhor, e nem os injustos que já morreram "esperarão em tua verdade". O purgatório ensina que alguns mortos podem ser purificados e salvos após a morte. Para essa doutrina, eles poderiam "esperar na verdade" do Senhor. Mas essa ideia é contrária ao ensinado pelo profeta, conforme lemos acima. Mais uma vez, fica evidente que o purgatório ou o espírito com entidade viva após a morte do homem, não são condizentes com as Escrituras e estão em desarmonia com elas.

Outro ponto a considerarmos é sobre a injustiça que trazem sobre a pessoa de Jesus ao ensinarem que ele concedeu uma segunda chance à essas pessoas antediluvianas. Ao interpretarem desta forma o texto, aplicam uma parcialidade em Jesus, isto é, ele concedeu uma segunda oportunidade de salvação à estes pecadores do tempo de Noé, mas e quanto aos demais pecadores de todas as outras eras? Não eram todos pecadores, por que então somente uns receberiam uma segunda chance? Veja que essa parcialidade possibilita uma acusação de injustiça à pessoa de Jesus Cristo diante de todos os demais seres humanos.

A ideia de uma entidade espiritual viva que sai do corpo do homem em sua morte é totalmente contrária à correta interpretação do estado dos mortos que as Escrituras ensinam. Muitas passagens bíblicas são utilizadas para essa interpretação, mas ela se torna contraditória à luz de outras passagens. O interessante é que a mesma doutrina se contradiz com interpretações de outras passagens utilizadas em defesa da mesma doutrina. Por exemplo, os mesmos que defendem a imortalidade da alma, também utilizam o texto de Lucas 23:43, o qual relata as palavras de Jesus ao ladrão arrependido e crucificado à sua direita. O texto diz o seguinte:

Lucas 23:43 - "E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso"
Sobre a análise dessa passagem (Lucas 23:43), por favor, leia o estudo "O Ladrão na Cruz foi para o Céu Após a sua Morte?".

Considere que os mesmos que afirmam que Jesus morreu e foi pregar aos "espíritos em prisão" se contradizem ao utilizarem o texto de Lucas 23:43 para defenderem que o ladrão à direita de Jesus morreu e foi ao Paraíso com Jesus logo após à sua morte. A final de contas, no dia da sua morte, Jesus foi pregar aos "espíritos em prisão" ou foi ao "paraíso" com o ladrão crucificado?! Perceba a incoerência para defenderem uma doutrina não bíblica!

Até o momento, verificamos uma incoerência nas 3 interpretações apresentadas pelos espíritas, evangélicos e católicos. Se essas 3 interpretações estão incorretas, como devemos então compreender esse texto? Primeiramente, devemos compreender a obra do nosso Senhor Jesus. Assim foi dito pelo profeta:

Lucas 4:18-21 - "O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor. E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos"

O ministério de Cristo foi:

  1. evangelizar os pobres
  2. curar os quebrantados de coração
  3. pregar liberdade aos cativos
  4. restaurar a vista dos cegos
  5. pôr em liberdade os oprimidos
  6. anunciar o ano aceitável do Senhor

Tudo isso ele fez pelo "Espírito do Senhor" que estava sobre ele! Por meio da atuação do Espírito de Deus, Jesus realizou todas essas obras! Esse ministério não foi exclusivo de Jesus. O mesmo foi dado para o povo de Deus ao longo das eras, seja durante o governo de Israel ou na era cristã. O povo de Deus, imbuído do Espírito do Senhor, também deveriam realizar tais obras. Assim diz o Senhor ao seu povo:

Isaías 42:6,7 - "Eu, o Senhor, te chamei em justiça, e te tomarei pela mão, e te guardarei, e te darei por aliança do povo, e para luz dos gentios. Para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas"

O povo de Deus foi chamado à ser "luz dos gentios", e realizar obras semelhantes às que foram executadas por Jesus aqui na terra. Essas obras não realizamos por nós mesmos, mas por meio do Espírito do Senhor que atua em nós. O Espírito do Senhor atuou e atua em seu povo desdas eras antigas. Por meio dele, falou pela boca dos profetas dando-lhes inspiração nas mensagens que deveria proclamar. Assim explicou o apóstolo Pedro nas seguintes palavras:

1 Pedro 1:10,11 - "Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir"

Foi "o Espírito de Cristo, que estava" nos profetas que os fizeram profetizar da graça ao longo das eras! E isso não foi diferente na época de Noé. Ao receber a mensagem de Deus sobre o dilúvio que viria sobre a terra, Noé pregou essa mensagem aos seus contemporâneos, e durante décadas construiu uma arca para esse dia. Apesar do tempo passar e das inúmeras pregações de Noé, somente a sua família aceitou a mensagem pregada e se salvaram daquele acontecimento. Os demais, zombaram de Noé e da mensagem que pregava. Não se arrependeram de seus pecados e foram consumidos pelo dilúvio. Jesus pregou à estas pessoas por meio de seu Espírito, utilizando como instrumento humano o seu servo Noé!

2 Pedro 2:5 - "E não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, a oitava pessoa, o pregoeiro da justiça, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios"

Noé foi "o pregoeiro da justiça" e Jesus pregou por meio dele ao ungi-lo com o seu Espírito! Jesus não pregou aos antediluvianos após a sua morte na cruz, mas assim o fez no tempo em que tais pessoas estavam vivas em suas épocas! É desta forma que devemos compreender as palavras de Pedro ao dizer que Cristo "foi, e pregou aos espíritos em prisão".
 
O termo "espírito" se refere às próprias pessoas. Estavam em prisão por causa do pecado! O pecado é a prisão de satanás! Assim declara o sábio Salomão referente às iniquidades e aos pecados dos ímpios:

Provérbios 5:22 - "Quanto ao ímpio, as suas iniquidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido"

Para finalizarmos, gostaria de deixar um texto do famoso reformador João Wesley, um dos principais reformadores do protestantismo, muito considerado pelos inúmeros evangélicos:

"Por meio de que Espírito Ele pregou? - Através do ministério de Noé, aos espíritos em prisão, isto é, os homens perversos antes do dilúvio. ... Quando a longanimidade de Deus esperava. Durante cento e vinte anos, por todo o tempo em que estava sendo preparada a arca; quando então Noé os admoestava a que fugissem da ira futura." - Explanatory Notes Upon the New Testament, pág. 615.

Que Deus nos abençoe!

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