A Bíblia aborda o tema de emprestar dinheiro e pegar empréstimos com uma forte ênfase na necessidade de agir com cautela e sensatez. Ela adverte que agir de forma imprudente pode levar o recebedor do empréstimo a enfrentar dificuldades ainda maiores, enquanto o credor pode ser tentado a adotar um comportamento ganancioso ou opressor, o que não é aprovado pela Bíblia.
As palavras "empréstimo", "emprestar" e "tomar emprestado" comunicam a ideia de que o credor e o devedor estão "entrelaçados" em um compromisso sério. Isso significa que, na Bíblia, emprestar ou tomar emprestado envolve mais do que simplesmente o valor emprestado, pois estabelece-se um relacionamento pessoal entre ambas as pessoas.
Como eram os empréstimos nos tempos bíblicos?
Em sociedades do antigo Oriente Próximo, como a Babilônia, os empréstimos eram frequentemente voltados para fins comerciais. No entanto, para os israelitas, empréstimos tinham um propósito caritativo. Segundo as escrituras, eles deveriam emprestar dinheiro aos necessitados sem cobrar juros sobre o valor emprestado:
"Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor que impõe juros" - Êxodo 22:25
"Se teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então, sustentá-lo-ás. Como estrangeiro e peregrino ele viverá contigo. Não receberás dele juros nem ganho; teme, porém, ao teu Deus, para que teu irmão viva contigo. Não lhe darás teu dinheiro com juros, nem lhe darás o teu mantimento por causa de lucro" - Levítico 25:35-37
"Livremente, lhe darás, e não seja maligno o teu coração, quando lho deres; pois, por isso, te abençoará o Senhor, teu Deus, em toda a tua obra e em tudo o que empreenderes" - Deuteronômio 15:10
"De um compatriota vocês não devem cobrar juros, ao emprestarem dinheiro, comida ou qualquer coisa que se costuma emprestar com juros" - Deuteronômio 23:19
Aqueles que emprestavam aos menos favorecidos confiavam na recompensa divina, conforme descrito em Provérbios 19:17, que diz que quem se compadece do pobre empresta ao próprio Deus, e Ele retribui o benefício. No entanto, empréstimos a juros eram permitidos aos estrangeiros, e aqueles que tomavam emprestado estavam cientes de que poderiam ser cobrados rigorosamente:
"Do estranho vocês podem exigir o pagamento da dívida, mas o que tiverem emprestado aos seus compatriotas vocês devem dar por quitado" - Deuteronômio 15:3
"Aos estrangeiros vocês podem emprestar com juros, porém aos seus compatriotas vocês não devem emprestar com juros, para que o Senhor, seu Deus, os abençoe em todos os seus empreendimentos na terra que vocês vão possuir" - Deuteronômio 23:20
Quanto às garantias para empréstimos, existiam regras para proteger os mais necessitados. Por exemplo, uma veste tomada como garantia precisava ser devolvida no mesmo dia (Êxodo 22:26), e as vestes de uma viúva não podiam ser exigidas como garantia. Além disso, era proibido ao credor invadir a casa do devedor para tomar garantias à força (Deuteronômio 24:10-17).
O que acontecia com quem não pagava um empréstimo?
Para cobrar uma dívida não paga, era comum o credor confiscar os bens do devedor e, em casos extremos, a pessoa ou seus familiares podiam ser sujeitos à escravidão. Isso significava que o devedor poderia se tornar escravo do credor ou até mesmo vender seus próprios filhos como escravos (2 Reis 4:1; Neemias 5:5-8; cf. Êxodo 21:2-11; Levítico 25:39-43).
No entanto, existia uma regulamentação que previa a anistia das dívidas. A cada sete anos, as dívidas poderiam ser perdoadas, e a cada seis anos as pessoas em situação de escravidão devido a empréstimos não pagos eram libertadas (Deuteronômio 15:1-10; Jeremias 34:14).
Além disso, a cada cinquenta anos ocorria o Ano do Jubileu, quando as dívidas eram perdoadas e as propriedades alienadas eram devolvidas, exceto as localizadas em cidades muradas (Levítico 25).
A Bíblia proíbe tomar emprestado ou emprestar dinheiro hoje?
Sim, é verdade que a Bíblia contém advertências severas sobre emprestar e tomar emprestado, especialmente no contexto das fianças. No entanto, é importante entender essas passagens à luz do contexto histórico em que foram escritas.
Durante a monarquia em Israel, os israelitas provavelmente adotaram o sistema de empréstimos comuns nas nações vizinhas, o que levou a muitas injustiças, principalmente contra os devedores pobres. Isso resultou em situações em que emprestar a juros foi considerado tão grave quanto a idolatria e o roubo:
"...emprestar para ter lucro e cobrar juros, será que esse viverá? Não viverá. Ele fez todas estas abominações e será morto; é responsável pela própria morte" - Ezequiel 18:13
"Ai de mim, minha mãe! Porque você me pôs no mundo para ser homem de rixa e homem de discórdias para toda a terra! Nunca lhes emprestei, nem pedi dinheiro emprestado, mas todos me amaldiçoam" - Jeremias 15:10
Apesar desse contexto histórico, os princípios encontrados nos textos bíblicos sobre emprestar e tomar emprestado permanecem válidos. Um cristão não é proibido de pedir um empréstimo a juros, mas deve entender as implicações e perigos desse compromisso.
O cristão deve avaliar se o empréstimo é realmente necessário e nunca pedir um empréstimo que não possa pagar. Além disso, uma vez que tome emprestado, é responsabilidade dele pagar suas dívidas:
"Paguem a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra. Não fiquem devendo nada a ninguém, exceto o amor de uns para com os outros. Pois quem ama o próximo cumpre a lei" - Romanos 13:7-8
É importante lembrar que quem toma emprestado fica em uma posição de submissão ao credor:
"O rico domina sobre o pobre, e o que pede emprestado é servo de quem empresta" - Provérbios 22:7
Da mesma forma, emprestar também requer cautela. Embora os cristãos devam demonstrar generosidade para com os necessitados, também têm responsabilidades para com suas famílias. Portanto, não devem emprestar de forma imprudente, prejudicando aqueles que dependem deles em casa.
Se um cristão puder emprestar a alguém, deve fazê-lo com generosidade, sem buscar vantagens financeiras sobre a dificuldade do outro.
Que Deus nos abençoe!
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